Crise climática vai destruir o capitalismo (Eduardo Fernandez Silva)
A 3oC acima dos níveis pré-industriais, os danos serão tão grandes que nem os governos poderão fornecer resgates financeiros
atualizado
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Além das milhões de vidas que já foram e serão destruídas pela crescente crise climática, também o capitalismo terá fim. O alerta não veio de um ecologista radical, mas de Gunther Thallinger, membro do conselho de uma das maiores seguradoras do mundo, a Allianz, e ex-CEO do seu braço de investimentos. A razão, segundo ele, é que o mundo se aproxima de níveis de temperatura tão elevados que as seguradoras não mais poderão oferecer coberturas para muitos riscos climáticos, o que tornará o setor financeiro incapaz de operar. A 3oC acima dos níveis pré-industriais, os danos serão tão grandes que nem os governos poderão fornecer resgates financeiros. Interessante lembrar que na ideologia econômica dominante há ampla condenação a intervenções governamentais, exceto quando os resgates são “necessários” para salvar empresas “grandes demais para quebrar”!
A gestão de riscos é o negócio central das seguradoras, e há anos elas levam a sério os perigos das mudanças climáticas. Os prejuízos decorrentes de extremos climáticos, nos últimos dez anos, somaram centenas de bilhões de dólares, e a tendência é aumentar! Uma grande seguradora britânica já estima em dois trilhões de dólares os prejuízos na última década!
Comentando a fala do Sr. Thallinger, um ex-secretário geral assistente da ONU para mudanças climáticas disse que o setor de seguros é o “canário na mina de carvão quando o assunto é mudanças climáticas”. A questão não é mais previsão: já é história, como exemplificado por muitas empresas que já não aceitam mais fazer seguros para casas na Califórnia, devido aos devastadores incêndios! A ausência de seguros afeta, além do setor imobiliário, a indústria, a agricultura, a infraestrutura, os transportes… Ou seja, uma crise de crédito que trava todos esses setores e leva a uma profunda crise civilizacional!
Sintetizando, ele diz: “A 3oC de aquecimento, danos climáticos não poderão ser segurados, ou cobertos pelos governos, ou íveis de adaptação; isso significa não haverá mais hipotecas, empreendimentos imobiliários, nem investimentos de longo prazo nem estabilidade financeira. O setor financeiro como conhecemos deixará de existir e, com ele, o capitalismo como conhecemos cessará de ser viável”!
Não obstante avisos tão claros e incisivos, a maioria dos governos, parlamentares e empresários continua postergando ações mais firmes para acabar com a queima de combustíveis fósseis, razão primeira do desarranjo climático que vivemos e legaremos aos nossos filhos e netos.
Como disse Jared Diamond, que analisou colapsos de diversas civilizações, membros da elite, como se fosse grande vantagem, apostam que serão os últimos a morrer de fome!
Nessa crença banal, condenam a todos e a si próprios.
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados