Mangá com “profecia” de terremoto faz turistas cancelarem ida ao Japão
Publicação de mangá da década de 90 da artista Ryo Tatsuki viraliza nas redes e provoca pânico no Japão. Companhias aéreas reduzem voos
atualizado
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Um mangá japonês publicado há mais de duas décadas tem provocado uma onda de cancelamentos de viagens ao Japão, especialmente entre turistas asiáticos. A obra “The Future I Saw” (O Futuro que Eu Vi), lançada em 1999 pela artista Ryo Tatsuki, voltou à tona nas redes sociais após supostamente prever um grande terremoto no Oceano Pacífico no dia 5 do próximo mês.
A data do fenômeno foi prevista quando a autora relançou o mangá em 2021.
A comoção levou turistas, principalmente de países como Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan, a mudarem seus planos de férias, causando prejuízos ao setor de turismo japonês. O mangá ganhou fama ao longo dos anos por descrever, com certo grau de precisão, eventos que de fato aconteceram, como o terremoto de Kobe em 1995, o tsunami de Fukushima em 2011 e até a pandemia de Covid-19 em 2020.
A autora afirma ter baseado as histórias em sonhos premonitórios que registra desde os anos 1980. Em uma versão atualizada da obra, publicada em 2021, Tatsuki relata a colisão de “dois dragões”, metáfora para placas tectônicas, que causaria uma catástrofe de grandes proporções, afetando Japão, Filipinas e regiões do Pacífico.
O conteúdo viralizou nas redes sociais neste mês de maio, impulsionado por videntes e influenciadores digitais asiáticos, que reforçaram a narrativa e ampliaram o clima de temor. A partir daí, o que parecia ficção ou a ser tratado por muitos como um aviso legítimo.
Efeito dominó no turismo
O reflexo foi imediato. Agências de turismo em Hong Kong reportaram uma queda de até 50% nas reservas para o Japão entre os meses de junho e julho. Muitas viagens já agendadas foram canceladas em massa, especialmente após o conteúdo alcançar grande circulação em plataformas como TikTok e WeChat.
Companhias aéreas como Greater Bay Airlines e Hong Kong Airlines anunciaram redução temporária de voos para o Japão, alegando queda repentina na demanda. A crise atinge em cheio um setor que vinha em plena recuperação após a pandemia de Covid-19. Só em abril de 2025, o país havia registrado um recorde de 3,9 milhões de visitantes internacionais.
Governo tenta conter estragos
Em resposta ao impacto crescente, autoridades japonesas reforçaram mensagens de tranquilidade. O governador da província de Miyagi, Yoshihiro Murai, afirmou que rumores baseados em ficção não devem guiar decisões públicas e solicitou que a população e os turistas confiem em fontes oficiais.
Especialistas em sismologia também reiteram que não é possível prever terremotos com rigor científico. A maioria dos estudos aponta somente probabilidades estatísticas de ocorrência em zonas sísmicas conhecidas, como o Japão — localizado no chamado Círculo de Fogo do Pacífico.
Apesar do alarde, não há nenhuma evidência concreta de que um grande terremoto acontecerá em julho. O Japão segue operando normalmente, com toda a sua infraestrutura avançada de prevenção e resposta a terremotos, uma das mais modernas do mundo.