Censo: no Brasil, pardos são maioria em quase todas as religiões
Distribuição racial entre religiões expõe desigualdades sociais. Religiões com maior presença negra tem maiores taxas de vulnerabilidades
atualizado
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Pessoas que se autodeclaram pardas formam o grupo majoritário em grande parte das religiões, apontam dados do Censo Demográfico de 2022. Essas pessoas representam, por exemplo, 49,1% dos evangélicos, 45,1% dos sem religião, 33,1% dos adeptos da umbanda e do candomblé e 26,3% dos espíritas.
Entre os católicos apostólicos romanos, a maior religião do país, os pardos também são maioria, seguidos por brancos. O dado reforça o peso populacional desse grupo no Brasil: segundo o próprio Censo, quase metade da população brasileira (45,3%) se declara parda, enquanto brancos são 43,5% e pretos, 10,2%, respectivamente.
A análise por religião revela, no entanto, nuances importantes. Os espíritas, por exemplo, têm uma composição diferente: 63,8% são brancos, enquanto pardos representam pouco mais de um quarto (26,3%). Já a umbanda e o candomblé têm proporções mais equilibradas entre brancos (42,7%), que são a maioria nas religiões de matrizes africanas, pardos (33,1%) e pretos (22,4%). Confira:
Entenda a pesquisa
- O Censo 2022 permitiu ao cidadão a possibilidade de participar por meio de três formas diferentes: entrevista presencial, por telefone ou autopreenchimento pela internet.
- O quesito Qual é sua religião ou culto? foi aplicado a todas as pessoas de 10 anos ou mais de idade, contudo, nas Terras Indígenas e nos Setores Censitários de agrupamentos indígenas, para melhor captação das informações desse grupo populacional específico, a redação do quesito foi alterada para Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?
- A entrevista presencial correspondeu a maior parte (98,9%) das respostas do Censo 2022 com 72 433 841 questionários aplicados.
- A investigação das características dos domicílios e das pessoas neles residentes terá com data de referência zero hora do dia 1º de agosto de 2022.
- Desde o primeiro Censo Demográfico brasileiro, realizado em 1872, a religião tem sido alvo de investigação censitária.
Religião reflete desigualdades
Embora a presença de pardos seja expressiva entre todas as religiões, a distribuição racial entre elas também expõe desigualdades sociais. Os grupos com maior presença de brancos, como o espiritismo, concentram os melhores indicadores socioeconômicos: são os que têm maior escolaridade, menor taxa de analfabetismo (apenas 1%) e maior o à internet em casa (96,6%).
Já os grupos com maior presença de pretos, indígenas e pardos tendem a enfrentar maiores taxas de analfabetismo, menor o a ensino superior e condições de moradia mais vulneráveis. É o caso das tradições indígenas e da população católica mais envelhecida, por exemplo.
Mulheres são maioria em todas as religiões
Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta sexta-feira (6/6), revelam, ainda, que a maioria dos fiéis são mulheres no Brasil. Em quase todos os grupos religiosos, elas estão em número superior ao dos homens. As únicas exceções são nos grupos que se declararam “sem religião” e os que seguem tradições indígenas, onde os homens representam a maioria.
No geral, o predomínio feminino nas religiões reflete uma realidade histórica do país, mas os novos dados ajudam a dimensionar essa diferença. Entre os espíritas, por exemplo, 60,6% são mulheres. O mesmo ocorre entre católicos, evangélicos e adeptos da umbanda e do candomblé.
Veja detalhes:
Os homens são maioria entre aqueles que seguem tradições indígenas e chegam a representar 50,9% dos adeptos. Já entre os que não seguem nenhuma religião, 56,2% são homens. Esse grupo cresceu no país: ou de 8% da população em 2010 para 9,4% em 2022. A maior proporção de pessoas sem religião está entre jovens de 20 a 24 anos.